projeto
Irineu Zeni

Av. Independência, 426 - POA, RS

Projeto de Restauração e Execução

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Projeto de Restauração 2011-2012 Execução 2014-2017


A casa Frasca foi o primeiro projeto completo de restauração do S1Arq. O projeto foi realizado entre 2011 e 2012 e a execução entre 2014 e 2017.
A casa Frasca é um palacete composto por três casas situadas em importante conjunto de residências construídas na virada do século XIX para o XX remanescente, em uma única quadra, que compõem um significativo conjunto arquitetônico de residências na Av. Independência e a rua Barros Cassal, nobre endereço que a partir do início do século XX começou a receber os palacetes da alta sociedade porto-alegrense. Construída entre 1906 e 1911 pelos irmãos Antônio e Caetano Frasca, imigrantes calabreses, combina comércio no térreo e residência no piso superior. É um dos mais expressivos exemplares do ecletismo arquitetônico da capital gaúcha.
O casarão, com altura de um prédio de cinco andares, apresenta rica ornamentação interna e externa: corrimãos de madeira, molduras nas janelas, esculturas, ladrilhos, pinturas parietais, soleiras de mármore e azulejos importados. Inscrições "AF" e "CF" acima das portas remetem aos nomes dos irmãos Frasca. Durante seus primeiros anos, a Casa Frasca serviu como moradia, passando a abrigar atividades comerciais ainda antes de sua conclusão. Posteriormente, foi alugada para inquilinos, funcionando como supermercado, estúdio de balé e centro espírita.
Nos anos 2000, a banda Cachorro Grande utilizou o espaço como estúdio, apelidando-o de "FunHouse". Em 2002, a propriedade foi vendida, e em 2010, o Ministério Público iniciou um inquérito para preservar as fachadas, já reconhecidas como patrimônio histórico.
Em 2012 o Studio1 Arquitetura elaborou o projeto de restauração, identificando e resgatando a história do casarão. Em 2014 a casa de Caetano Frasca teve sua fachada restaurada e finalmente, em 2018 se pode contemplar o conjunto que resgata com certa fidelidade o aspecto original do conjunto. A Casa Frasca é um palacete italiano cravado na esquina que abre o bairro Independência, um verdadeiro testemunho de uma época da capital gaúcha.
As casas são compostas por 3 partes:
1 - Embasamento: composto de porão baixo com galerias para ventilação e acessos
menores, também é onde fica as aberturas e os acessos da casa.
2 - Corpo: ornamentado com frisos, carranca,s frontões e cartelas, onde se revela a
finestração da edificação. No primeiro destinado a atividades comerciais, no segundo
residenciais.
3 - Coroamento: composto pela platibanda cega alternada por balaustradas, cartelas e
pequeno conjunto escultório.
Para embasar tecnicamente as decisões e intervenções no restauro, foram realizadas análises em amostras de reboco interno e externo das duas casas. Os resultados indicaram a predominância de rebocos à base de cal, além de áreas com reboco moderno à base de cimento.
Na parte interna da Casa Frasca 1, pequenas aberturas foram criadas para investigar a composição das paredes divisórias entre os cômodos. Também foram feitas prospecções de cores em salas com pinturas decorativas nas paredes, buscando identificar suas características originais.
Externamente, as prospecções de cores concentraram-se nas reentrâncias dos ornatos e em áreas protegidas pelas guarnições de portas e janelas. A identificação do tom original foi realizada molhando a superfície, revelando dois tons predominantes, com a adoção do mais intenso para o restauro.
Adicionalmente, a termografia, técnica de prospecção térmica sem contato, foi utilizada. Fotografias com radiação infravermelha ajudaram a mapear a umidade nas paredes das fachadas e a identificar problemas como deslocamentos de reboco, trincas e fissuras, contribuindo para um diagnóstico detalhado e direcionado ao processo de recuperação.
A restauração da Casa Frasca incluiu a recuperação de ornatos e elementos arquitetônicos da fachada, muitos dos quais foram modificados ou suprimidos ao longo do tempo. A primeira fase do processo focou na fachada principal da casa que pertenceu a Caetano Frasca, hoje propriedade da Mitra Diocesana de Santa Cruz, herdada de Magda Frasca.
Durante o projeto de restauro, foram identificadas as cores originais, composição de argamassas e detalhes da construção. A execução ficou a cargo da empreiteira Lutz, que, apesar de inexperiente em obras de restauração, respeitou as especificidades do patrimônio.
Elementos como ornatos de estuque e capeamentos foram reconstituídos. A pintura utilizou tinta mineral, após remoção das camadas acrílicas e limpeza da superfície com água em baixa pressão. O reboco original foi mantido devido à sua boa aderência e estabilidade.
Balaustres degradados na platibanda foram substituídos por réplicas feitas a partir de moldes, fixadas com pinos de aço inoxidável. O grupo escultórico foi tratado para reconsolidação, enquanto o balcão de ferro fundido recebeu jateamento, aplicação de zarcão e pintura em esmalte grafite. O corrimão de madeira, totalmente deteriorado, foi substituído por uma réplica em madeira tratada de alta densidade.
O florão acima da janela principal, em estado avançado de degradação, foi recomposto artesanalmente, restaurando sua forma original. Essas intervenções devolveram à Casa Frasca sua leitura arquitetônica autêntica, preservando seu valor histórico e cultural.
Na restauração da Casa Frasca, a porta principal foi decapada para recuperar a aparência natural da madeira, como no design original. As demais esquadrias foram removidas e restauradas em um ateliê, preservando suas peças originais, exceto por marcos substituídos devido à degradação causada por térmitas. Após análises de camadas pictóricas, foi adotada uma cor próxima à original, encontrada na primeira camada investigada. As ferragens também foram restauradas, resultando em esquadrias com 90% de originalidade.
Elementos ornamentais na fachada, modificados ou suprimidos ao longo do tempo, foram resgatados para recuperar a leitura arquitetônica original. Testes de cores determinaram a composição ideal para a fachada, levando em conta a harmonia com o conjunto das três casas e a contextualização histórica. A monocromia foi escolhida para manter a coerência com a arquitetura eclética contemporânea da época e com edificações próximas, como a Casa Godoy.
A escolha das cores baseou-se em prospecções e na tradição calabresa da família Frasca, com combinações típicas de esquadrias e reboco. Um detalhe interessante foi a decisão de não reconstituir o braço de uma peça do conjunto escultórico do coroamento, preservando o registro histórico da degradação causada pelo tempo.
Essas intervenções garantiram a integridade histórica e cultural da Casa Frasca, alinhando técnicas de restauro com critérios estéticos e contextuais.
Casa Frasca